EM FIM

Daniel Novik

No fim da linha tem poço
No fim da linha tem fossa
No fim da linha tem vida
No fim da linha eu posso
No fim da linha da pipa
Da linha do trem

No fim da infância há insegurança
Do acalanto, proteção
Da juventude, maturidade
Da discussão, reconciliação
No fim da noite vem a saideira
Da derradeira, muita doideira
Após a ressaca, a rebordose
No fim da carícia, puro tesão

É tanta emoção, que muitos nem sentem
A calma aparente faz parte da gente
Enquanto medita, a gente transita
O corpo vagueia por constelações

No fim da grana vem a sarjeta
Depois da vitória, a consagração
Com a abundância, pura ganância
Ao fim do trabalho, a satisfação
Com a comilança, vem a bonança
Depois da seca, a desolação
Após o gozo, o regozijo
Com as perdas, a conformação

É tanta emoção, que muitos nem sentem
A calma aparente faz parte da gente
Enquanto medita, a gente transita
O corpo vagueia por constelações

Mas que desespero na calma aparente
Que nem se percebe o amor que se sente
É tanta delícia, é tanta malícia
Faz parte da gente esse turbilhão

No fim do túnel há luz, esperança
Após a derrota, só frustração
Depois da crise, juntando os caquinhos
Há de haver a redenção
Após o poente vem sempre o nascente
Depois do choro, a consolação
No fim do parto, eis o presente
Ao fim da vida, a reencarnação

É tanta emoção, que muitos nem sentem
A calma aparente faz parte da gente
Enquanto medita, a gente transita
O corpo vagueia por constelações